Desde 2010, o físico e matemático sueco, Hans Rosling (falecido ano passado), é mundialmente popular pelos seus TED Talks, nos quais tem a incrível habilidade de ver o mundo com bons olhos, e convencer a todos, com o vigor de uma criança, de que o mundo não está ruim como eles pensam, que a percepção popular sobre pobreza, desigualdade e outras coisas, é enviesada pelas notícias. Sempre olhei com meu habitual cansaço para os TED Talks dele e, infelizmente, nenhum deles conseguiu me tirar da rotineira indignação marxista, que se reveza com momentos de aceitação do absurdo.
Aí resolvi voltar a ser economista um pouco e focar nos dados apresentados por Rosling. Na própria ferramenta do Gapminder, criada por ele, quando se retira o log da renda, têm-se a real ideia de como evoluiu a distribuição da riqueza ao longo dos anos no planeta. Seguem abaixo os gráficos comparativos logaritmicos do Hans Rosling, e os gráficos comparativos lineares, feitos por mim. A adoção do log para a variável renda é sempre um mero detalhe para a estatística usada pela economia hegemônica (neoclássica). Isso porque para alguém que possui R$1, R$10 deve ‘significar’ o mesmo que R$100 para quem tem R$10. Ou ainda, porque para alguém que tem R$1, um incremento de R$10 é muito mais significativo do que o mesmo R$1 para alguém que tem R$100. Sim, claro, isso é o capitalismo.
A questão é justamente essa! O gráfico e os números não estão aí precisamente para serem “isentos”? Pois então, já se vê o valor implícito até nas premissas para a adoção de um log ou um linear. E nesse caso, especificamente, isso é incrivelmente mais problemático, porque se o que se quer medir é justamente a evolução da desigualdade entre indivíduos e países e não o percentual de quanto um indivíduo evoluiu em relação a ele mesmo, então, a adoção do log e a ideia de renda incremental tornam tudo mais enganoso ainda.
Para quem alega apresentar fatos para combater ideias pessimistas pré-concebidas, o fato de usar o log, se alicerçando no argumento da renda incremental, explicita uma concepção de mundo já naturalizada – capitalista, esperançosa e baseada na falácia do etapismo social. Os gráficos e dados apresentados, consciente ou inconscientemente, são, assim, capazes de sustentar e promover tal concepção, se valendo ainda do benefício da isenção matemática e científica.
Crítica no mesmo sentido foi abordada nesse texto, em inglês.

