Federação Anarquista da Catalunha
Os mecanismos para participar nas decisões coletivas deste sistema político impedem um posicionamento decisivo. Deixar que representantes tomem decisões por outros nos levou à frustração atual de nos ver limitados a realizar posicionamentos simbólicos. Os órgãos da grande maioria da administração pública e empresas privadas decidem unilateralmente, e ignoram ou até proíbem o posicionamento ou consultas populares. Podemos mudar este mecanismo de decisão. Podemos nos organizar de forma horizontal e decidir todos os dias coisas que nos afetam diretamente. Necessitamos um interesse unânime para decidir a maneira que queremos nos organizar socialmente, políticamente e no âmbito trabalhista. O nosso envolvimento nas decisões ou lutas trabalhistas, sociais, políticas, ecológicas, etc. nos converte em responsáveis das nossas próprias vidas. São então processos, experiências, transmissões o quê possibilitam que todas entendam a sua responsabilidade para decidir sobre como seria a melhor forma de nos organizar.
Os referendos são uma forma efetiva fazer decisões diretas sobre assuntos concretos. Os movimentos sociais organizaram muitos referendos populares que nunca foram validados pelas administrações. O referendo atual para decidir a continuação ou a independência da Catalunha, está provocando conflitos entre administrações do Estado espanhol. Além disso, está se convertendo em uma estratégia que certos partidos políticos utilizam para produzir mártires de uma causa nobre e apagar ou desculpar a corrupção e medidas impopulares. O descontentamento com a “constituição de 78” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Constituição_espanhola_de_1978), o histórico repressivo à cultura catalã e a luta dos movimentos que defendem a autodeterminação é a evidência do conflito que interessa para a gente.
Nós, da Federação Anarquista da Catalunha, manifestamos o nosso suporte ao referendo de 1 de outubro, já que a autodeterminação dos povos formam parte da autogestão e da auto-organização. Mesmo que sejam organizados por uma administração da Catalunha, entendemos que responde a uma necessidade real de interesse de muitas pessoas, além de abrir a possibilidade de um processo destituinte e organizativo não continuista.
Criticamos as margens impostas na participação deste referendo. Fazemos oposição aos limites administrativos da Catalunha; existem aspectos em comum com outras regiões próximas por motivos geográficos ou por relações cotidianas que estão sendo ignorados. Também são excluídas de votar pessoas menores de 18 anos e as que não tenham os seus documentos regularizados.
Em relação a pergunta proposta, acreditamos que a independência (social, trabalhista ou nacional) não depende de um “Estado”, nem das entidades financeiras, nem de nenhuma empresa privada, mas sim uma tomada de decisão que vem de baixo, à margem das instituições administrativas, dos partidos políticos ou dos sindicatos amarelos (https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/s/sindicatos_amarelos.htm), a fim de conseguir o controle do nosso trabalho e da nossa vida. Rejeitamos a criação de um Estado catalão, já que criticamos a ineficácia democrática presente dentro de um “Estado”, seja pela divisão de territórios sem levar em conta realidades locais, ou pelo centralismo, seja de Barcelona ou de Madrid. Também rejeitamos a criação de uma república, apesar das vantagens se comparamos com a situação atual. Entendemos que a república será continuista e inserida no sistema econômico. Se o que se busca com a criação de um novo “Estado republicano” é mais justiça e igualdade, o modelo neoliberal que defende uma parte importante do movimento independentista empurra a Catalunha para uma situação econômica similar a atual. Não queremos isto. Nós não queremos um processo destituinte do poder vigente e um processo coletivo que caminhe para a participação total da população na tomada de decisões para estabelecer forma de organização social e trabalhista, que blindem organizações horizontais e de decisões por assemblearias.
Compreendemos que é difícil entender uma organização social que não esteja blindada por um “Estado republicano”, mas é um desafio que temos que afrontar juntas se queremos ser totalmente livres e independentes. Atualmente encontramos exemplos deste tipo de organização, como municipalismo libertário, as comunas livres ou o confederalismo democrático. Encontramos também na história catalã exemplos de uma organização social emancipadora, como foi o comunismo libertário durante a Revolução Social de 36.
Texto original em catalão https://www.federacioanarquista.org/433-2/